Durante o atendimento domiciliar de um idoso com Alzheimer, sua filha fez o seguinte comentário:
“Meu pai não fica sem 2 coisas. A dentadura e a carteira”.
Esse comentário me fez refletir que é fundamental a identificação de elementos que são importantes na vida do idoso.
Mas me questionei: por que a carteira?
A sensação de autonomia pode ser um diferencial!
A carteira é um sinal de autonomia, mesmo que o paciente não tenha mais essa autonomia, é um meio de fazer com que ele pense que ainda tem poder de decisão e que se quiser algo ele pode ter. É interessante buscar meios que demonstrem que você respeita essa autonomia.
A filha me contava que ele só dorme com a carteira ao lado e ela utiliza o dinheirinho falso do jogo infantil “Banco Imobiliário” para rechear a carteira do pai. Para muitas pessoas, pode parecer que ela está enganando seu pai, mas para mim seu gesto significa amor e respeito.
Se isso faz bem ao idoso e o deixa mais seguro, qual o mal em proporcionar isso a ele?
É importante oferecer opções aos pacientes.
Fazemos algo muito parecido com os nossos pacientes, especialmente quando o paciente possui alguma alteração neurológica que o levou a perda de sua lucidez. A ideia é fazer com que ele perceba que ainda está no controle de alguma forma.
Se o paciente precisa fazer um tratamento, é comum nossa equipe dar opções que trazem essa sensação de controle ao paciente, de que está tomando decisões importantes e não simplesmente aceitando tudo que está sendo imposto.
Nesses casos, fazemos perguntas do tipo:
- Sr. José, preciso fazer um tratamento! Vamos fazer uma “limpeza” na prótese e nos dentes. O Sr. quer começar pela prótese ou pelos dentes?
- Dona Maria, hoje teremos que extrair um dente. A Sra. quer que coloquemos uma música ou prefere que o som fique desligado?
Quando o paciente toma decisões, fica mais tranquilo!
Em ambos os exemplos, estou sendo enfático em colocar que o tratamento será realizado, mas no final ofereço opções que podem trazer a sensação de que o idoso está tomando decisões ligadas à sua vida e àquele tratamento.
No atendimento aos pacientes com comprometimento neurológico, o exercício da empatia é fundamental. É necessário procurar ter a percepção do outro e não julgar seu comportamento, até porque existe uma doença que traz alterações que fazem com que ele perca sua capacidade de raciocinar. São pequenas atitudes que podem contribuir no cuidado desse idoso e que o auxiliam a ter uma vida melhor.
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